Às vésperas da Páscoa, pais e responsáveis levaram crianças e adolescentes na manhã da terça-feira (30) ao Espaço Querer Bem, em Candeias, para participar das atividades lúdicas especiais do dia, preparadas pelos profissionais do lugar. De acordo com a coordenadora, Talita Ramalho, foi a terapia temática de “Caça aos Ovos da Páscoa”.
São crianças que tiveram o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, há sete meses, passaram a ser acompanhadas por assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogas, psicopedagoga, neuropediatra, musicoterapeuta, educadores físicos e nutricionistas, os quais fazem parte da equipe do centro.
“O tratamento das crianças com diagnóstico de TEA envolve uma equipe multidisciplinar que atua no processo de aprendizagem e reaprendizagem, possibilitando assim que as crianças desenvolvam suas habilidades”, explicou Talita. A coordenadora disse ainda que os profissionais trabalham com uma abordagem interdisciplinar de acolhimento não só às crianças, mas também aos familiares.
Desde a inauguração, em 14 de agosto de 2020, pela Prefeitura de Candeias, por meio da Secretaria de Saúde, o Espaço Querer Bem, que é uma clínica especializada no atendimento a crianças autistas, já presta assistência a 101 famílias.
Nesta sexta-feira, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data, estabelecida em 2007 pela Organização das Nações Unidas, tem por objetivo divulgar informações para a população sobre o autismo e assim reduzir a discriminação e o preconceito que cercam as pessoas diagnosticadas com a síndrome neuropsiquiátrica. Além da felicidade pela Páscoa, as pessoas expressaram a alegria pelo dia especial.
Crianças e pais do Querer Bem falam sobre o Autismo
Nicola Gabriel, de 9 anos, agradeceu por participar da conversa e contou que tem muitas amizades no Espaço. “Eu gosto de vir pra cá com a minha mãe. Tenho muitas amizades, brinco muito e aprendo”, disse ele. “Gosto demais de tecnologia. Sempre que posso passar um tempo no celular, eu pesquiso muitas coisas interessantes”, completou.
Já a mãe de Pedro Enzo, de 6 anos, Fabiana dos Santos, explicou que a comunicação do garoto apresentou melhoras no decorrer dos meses. “Cada tratamento é importante para o desenvolvimento dele. A fono, dra. Rafaela, ajudou muito para melhorar a comunicação do Enzo. Eu sou muito feliz por isso”, disse.
Diego de Paula, pai do Igor, de 10 anos, considera o trabalho grandioso. “As pessoas que atuam aqui fazem um trabalho de excelência. Muito temos a conquistar, mas agradecemos por tudo que já conquistamos. Meu campeão desenvolveu muito. Agradecemos à gestão pela sensibilidade, porque antes, era tudo mais difícil para nós, que somos pais.”, expressou ele, emocionado.
Profissionais explicam os tratamentos
Assistente Social, Alessandra Araújo – “Após a inclusão, o Serviço Social direciona e acompanha a família e a criança para o trabalho multidisciplinar com todos os profissionais que intervêm no processo, criando assim condições para desenvolver habilidades que ajudem no presente e no futuro, a serem autônomos e conquistarem um lugar no mundo social e no trabalho. A intervenção do Serviço Social junto às famílias é realizada com estratégias criadas para acompanhar as crianças com sua adaptação, dificuldades e a melhoria na qualidade de vida”.
Fonoaudióloga, Rafaela Pereira – “É importante destacar que uma das características do TEA é o comprometimento da linguagem, seja ela na comunicação verbal ou não verbal. O objetivo do fonoaudiólogo é observar as características de cada criança, estabelecendo aumento da funcionalidade na comunicação, estimular a compreensão e expressão verbal, ampliar a independência cognitiva e funcional auxiliando no convívio na sociedade”.
Psicopedagoga, Julivalda Batista – “O psicopedagogo ajuda a reforçar positivamente os comportamentos adequados e ensina a criança com TEA o que deve ser feito em determinada situação. Para isso, repete e ensina quantas vezes forem necessárias com paciência e respeito às dificuldades encontradas pelo autista”. Julivalda explicou que no Querer Bem, os problemas de aprendizagem da leitura e escrita em crianças tem tratamento psicopedagógico interventivo através das brincadeiras.
Neuropediatra, Fernanda Bomfim – “Observamos o nível TEA nas crianças, porque o autismo pode ser leve, moderado ou grave. A equipe multiprofissional que inclui tanto a parte médica quanto os terapeutas, acompanham essas crianças, e, a cada atendimento, vai dando orientações às famílias. A acessibilidade à informação para os pais é outro ponto importante e nós orientamos a eles as fontes de informações confiáveis. Também precisamos orientá-los, seja com cursos de capacitação, com reuniões, porque precisamos construir o conhecimento junto às famílias no dia a dia. Os educadores, professores, precisam se sentir seguros e capacitados para a inclusão escolar, que é algo extremamente interessante, porque essas crianças têm o potencial de aprendizagem muito grande.”
Coordenadora, Talita Ramalho – “Se enxergássemos o amor sobre o olhar de um autista, seríamos uma sociedade muito mais acolhedora. Os autistas são seres humanos extremamente brilhantes e capazes, e merecem uma sociedade mais consciente e tolerante.”
O que é o autismo?
O nome oficial é Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que é uma condição de saúde caracterizada por déficit em duas importantes áreas do desenvolvimento, sendo a comunicação social e o comportamento. Não há só um tipo de autismo, mas muitos subtipos, que se manifestam de uma maneira única em cada pessoa. Tão abrangente que se usa o termo “espectro”, ou seja, indício, pelos vários níveis de comprometimento. Existem as pessoas com outras doenças e condições associadas (comorbidades), como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum, que nunca tiveram diagnóstico de autismo.
Encaminhamento ao Espaço
Para ter acesso aos tratamentos oferecidos na clínica, o usuário deverá comparecer a unidade de saúde, que fica localizada na Rua 15 de Novembro, S/N, munido de encaminhamento médico ou relatório, informando o diagnóstico de TEA, RG, CPF, Cartão SUS e comprovante de residência. A partir daí será feito o cadastro e o encaminhamento às terapias.
Texto: Nailan Brasil – PMC. Fotos: Rafael dos Anjos e Leonardo Silva.